O corpo físico de todos os seres humanos é composto por inumeráveis células. Estas células são de dois tipos: protozoicas e metazoicas. Todas as partes do corpo humano são compostas por estes dois tipos de células. De certo modo, toda a estrutura humana pode ser vista como uma célula metazoica.
Cada uma destas células possui uma mente, e uma alma individual. Porém as mentes das células são diferentes da mente humana. (E as mentes das células metazoicas são mais desenvolvidas que as mentes das células protozoicas). A mente humana é composta pela entidade microcosmica mais o somatório das mentes de todas as células protozoicas e metazoicas. Deste modo, a mente humana é uma mente coletiva. Tal como a Mente Macrocosmica está inseparavelmente associada a todas as entidades deste universo, através de ota yoga e prota yoga; a mente unitária também está inseparavelmente relacionada com todas as suas partes constituintes (a nível individual). Igualmente, de modo coletivo as mentes das células tem uma certa relação com a mente unitária.
Por norma, uma célula vive durante vinte e um dias e depois morre sendo substituída por novas células. Quando se esfrega uma parte do corpo, vemos sair o que parece ser poeira, mesmo que o corpo esteja protegido do ambiente. Esta poeira nem sempre é do ambiente, na maioria dos casos é a acumulação de centenas de células mortas.
Em geral, as células crescem a partir de luz, ar, água e dos alimentos que ingerimos. A natureza da comida e da bebida tem um efeito nas células, e consequentemente também influencia a mente humana. Logo, todo e qualquer sádhaka, ou praticante espiritual, deve ser muito cuidadoso na seleção de comida. Suponha-se que uma pessoa ingere comida támasika (ou estática). O resultado será que após um certo tempo, irão crescer células estáticas que por sua vez irão ter uma influência estática na mente do praticante. Os seres humanos devem escolher comida sáttvika (subtil), ou rájasika (mutatória ou estimulante) de acordo com o tempo, espaço e pessoa. Isto levará ao nascimento de células subtis, que por sua vez irão produzir amor pela prática espiritual, ajudando a alcançar o equilíbrio e tranquilidade psíquica. Deste modo criando uma imensa elevação espiritual.
A cada cerca de vinte e um dias as células velhas morrem e, crescem novas em seu lugar. No entanto, na terceira idade, devido a alguns problemas nas células, a suavidade e o brilho da face desaparecem, deixando a pele com rugas. Várias partes do corpo também ficam mais fracas. (Em pessoas idosas, as células velhas decaem e as novas células são produzidas em menor número. Além disso, algumas das novas células não se conseguem nutrição adequada.)
Em todos os casos em que um paciente esteve doente durante um longo período de tempo, os médicos mais experientes recomendam um período de repouso absoluto de no mínimo vinte e um dias. Deste modo, novas células saudáveis podem crescer permitindo ao paciente recuperar a sua força física e a sua energia mental.
As células são seres vivos, que pela transformação através de inúmeras vidas, chegaram a uma existência no corpo humano. A seu tempo, com o gradual fluir da evolução, a mente de cada célula irá tornar-se numa mente humana.
A aura, ou refulgência que irradia do corpo humano é a refulgência coletiva de todas as células que o constituem. Quando na terceira idade, muitas das células do corpo se tornam fracas, esta refulgência consequentemente também diminui. Mesmo o corpo de um jovem que está doente perde o seu brilho.
Só no rosto humano, existem milhões de células. Quando uma pessoa se zanga, uma quantidade muito grande se sangue precipita-se para o rosto, o que faz com que fique vermelho e originando a morte de muitas células. Uma pessoa cruel ou violenta pode facilmente ser reconhecida pela sua face.
Como resultado da ingestão de alimentos subtis e da realização de práticas espirituais, as células do corpo humano tornam-se subtis. Então, estas células emanam um brilho que cria uma aura em torno do corpo físico do praticante espiritual. Esta é a razão pela qual muitas imagens de mahápuruśas (pessoas altamente evoluídas) os retratam com auras radiantes.
Se as células são afectadas pela comida e pela água, e se a natureza das células afecta a natureza da mente humana, é óbvio que os seres humanos devem formular correctamente a sua dieta. A comida e a mente tem uma relação muito próxima. Qualquer alimento, seja bom ou mau, não deve ser ingerido indiscriminadamente, porque isso pode levar a degradação mental. Os praticantes espirituais zelosos devem reger-se por: Áhárashuddhao sattvashudhih [“Uma dieta subtil cria um corpo subtil”]. Só devem ser ingeridos os alimentos que ajudam a manter o corpo e a mente subtis.
Todos os objetos deste mundo são dominados por um dos três princípios – subtil, mutatório e estático. A comida não é exceção, e pode ser agrupada em três categorias de acordo com a sua natureza intrínseca.
Comida Subtil: A comida que produz células subtis e que promove o bem-estar físico e psíquico é subtil. Exemplos destes alimentos são arroz, trigo, cevada, todas as variedades de leguminosas, frutas, leite e seus derivados.
Comida Mutatória: Alimentos que são bons para os corpo, que podem ou não ser bons para a mente, mas que seguramente não são prejudiciais para a mente são considerados mutatórios.
Comida Estática: Os alimentos que são prejudiciais para a mente, mas que podem ou não ser bons para o corpo são considerados estáticos. Cebola, alho, vinho, comida velha ou podre, a carne de animais de grande porte, como vacas e porco, peixe, ovos, entres outros, são alimentos estáticos.
É comum as pessoas ingerirem alimentos sem conhecerem as suas propriedades intrínsecas. Por exemplo, o leite de uma vaca que pariu recentemente. Beringela branca, grão khesárii [uma variedade de leguminosas], espinafre-do-malabar [Basella rubra Linn.], ou sementes de mustarda, todas crescem normalmente a partir de matéria morta.
De modo a ter uma mente equilibrada e a progredir espiritualmente, os seres humanos terão que ter em atenção às características da comida que ingerem. A ideia de que “Eu vou apenas fazer a minha sádhaná [meditação] e comer qualquer coisa, seja apropriado ou não” não serve.
14 de Fevereiro 1970, Ranchi
Publicado em:
Psicologia do Yoga (Yoga Psychology) – livro disponível »
Ananda Marga Philosophy in a Nutshell Part 4