Lágrimas de Rinoceronte

Naqueles dias, Baba trabalhava no escritório dos caminhos-de-ferro em Jamalpur. Sempre que ele tinha tempo livre do emprego, ele aproveitava para passar tempo com os devotos, usando o Dharma Mahacakra (DMC) como desculpa. Ele próprio decidia quando e onde aconteceria. Certa vez, Baba surpreendeu todos, com a sua decisão de realizar um DMC em Ambagan, uma pequena aldeia em Assam. Ambagan é uma pequena aldeia do distrito de Navgaon em Assam. Os voluntários presentes, sugeriram que por haver muito poucos margiis lá, seria mais fácil fazer o DMC na cidade de Navgaon. No entanto, Baba recusou a sugestão e insistentemente manteve a sua decisão. De acordo com as suas ordens, a informação foi divulgada. Os voluntários apressaram-se de modo organizar o evento.

Finalmente, o DMC aconteceu na data e local, definidos por Baba. Na noite do DMC, Baba pediu ao seu secretário local que arranjasse um carro para que ele visitar uma reserva florestal a 8km de Ambagan. O secretário assim o fez e partiram viagem juntamente com três margiis locais. O secretário conduzia o carro. Baba disse-lhe que seguisse em direcção à selva. O condutor tentou apanhar uma estrada circular, porém Baba ordenou-lhe que atravessasse pelo meio da floresta. Passado algum tempo, o caminho tornou-se num trilho de terra, e estavam rodeados por floresta espessa. Os margiis aconselhavam o condutor que seria melhor voltar. Escurecia, e havia muitos rinocerontes por aqueles lados. Tinham medo de serem atacados, contudo o condutor seguiu em frente. Tal como temiam, passado algum tempo deram de frente com uma mãe rinoceronte e sua cria, mesmo no meio do caminho. Um margii começou a gritar com medo “Um rinoceronte! Um rinoceronte!” Alguém sugeriu que voltassem para trás imediatamente. O condutor olhou para Baba para perceber o que ele queria. Baba sorria tranquilamente, assim percebeu que era para continuar em frente. Como ele estava com Baba, não sentia medo nenhum. Destemidamente seguiu em frente pelo trilho.

Quando chegaram muito próximo do rinoceronte, Baba ordenou-lhe que parasse o carro. Os margiis tremiam de medo. É comum, numa situação destas, que a mãe rinoceronte tenha o instinto de proteger a sua cria, tornando-se agressiva. Seguramente que atacaria o carro. O seu espanto foi ainda maior quando Baba abriu a porta do carro e saiu. Então, começou a andar em direcção ao rinoceronte. Horrorizados, os margiis repararam que o condutor saiu e juntou-se a Baba. Sem saber o que fazer, saíram do carro e também seguiram Baba, julgando que se acontecesse alguma coisa, Baba seguramente os protegeria. Baba aproximou-se da mãe rinoceronte e afagou-lhe o dorso. Estavam perplexos. Este animal feroz era dócil como um veado, em frente a Baba. Ela não se mexeu. Baba acariciou também a cria. Então Baba murmurou algo ao ouvido da mãe rinoceronte numa língua que ninguém conhecia. Sem compreender o que acontecia, encheram-se de coragem, e perante a mansidão do animal, também os restantes conseguiram acariciá-la a ela e à cria. A mãe continuou mansa e quieta como se nada se passasse.

Passado algum tempo, já estava a ficar muito escuro, Baba pediu ao secretário que desse a volta ao carro para regressarem a casa. Enquanto dava a volta ao carro, os faróis incidiram sobre a cabeça dos animais e para seu espanto os margiis notaram que a mãe rinoceronte tinha os olhos cheios de lágrimas. Era realmente uma coisa estranha. Sem dúvida que o animal tinha sido tocado pelo amor de Baba. Então, Baba ordenou que entrassem para o carro, e no final ele também entrou.

Na viagem de regresso, um margii encheu-se de coragem e perguntou a Baba, como é que um animal tão feroz e protector quando tem a cria por perto se tinha comportado de modo tão meigo. Baba evadiu-se à pergunta, dizendo que eles ainda eram crianças pequenas, e que iriam compreender quando crescessem. Quando outro margii perguntou sobre as lágrimas, Baba então disse que ela se tinha recordado da sua vida passada. “Na sua vida passada, ela foi um ser humano, ela foi minha amiga.” O margii não conseguiu digerir muito bem o que Baba lhe disse, mas permaneceu em silêncio.
Ficou claro que Baba tinha feito o DMC em Ambagan onde não haviam devotos quase nenhuns, apenas para que pudesse visitar a sua “amiga” rinoceronte.

Este incidente ocorreu a 3 de Setembro de 1964

Do livro “Namami Kalyana Sundaram – parte 1”
Por Hamrahi