Baba ensina Kaos’ikii

Fui para o Centro de Treinos de Benares em Janeiro de 1975, após ter trabalhado um ano como LFT [local full-timer]. Mas antes de conseguir terminar, foi declarado o Estado de Emergência na Índia em Junho de 1975 e todos nós fomos presos e enviados para a prisão de Benares. Por isso, passei quase dois anos na cadeia, lá e em Bareilly. Após o período de emergência, voltei para o Centro de Treinos, mas a minha família foi lá e a minha mãe ameaçou jejuar até à morte se não me mandassem embora. Então, mesmo não querendo sair, o treinador disse-me para regressar com eles e voltar mais tarde, quando pudesse.

Estava frustrado por estar em casa. A minha família tinha diferentes pessoas a guardarem-me a toda a hora, para prevenir que eu fugisse de volta para o treino. Certo dia, durante um dia de jejum, a minha mãe caiu e fracturou a bacia. Fiquei muito infeliz com isto porque sabia que, para além da sua dor, agora ia ter que tratar dela durante muito tempo, até ela recuperar.

Acompanhei-a até Patna para receber tratamento no hospital. Durante essa viagem, conseguir ir visitar Baba na prisão. Perguntei-lhe, “Baba, porque é que me enviaste de volta para a minha família?” Ele respondeu, “Não te vou responder agora. Mais tarde, quando eu sair, dou-te a resposta.”

Finalmente a minha mãe recuperou, mesmo antes de Baba sair da prisão a 2 de Agosto de 1978. Então fui até Patna e passei lá um mês como guarda de segurança de Baba. Estava muito feliz por poder vê-Lo e servi-Lo todos os dias.

No dia 6 de Setembro, às 11 da noite, Baba chamou por 4 de nós, guardas de segurança, incluindo um Filipino, chamado Suresh. Baba explicou que Ele queria ensinar-nos uma nova dança chamada Kaos’ikii. Com a mão, mostrou-nos como fazê-la e depois pediu para que a fizéssemos à Sua frente. Quando terminamos, disse “Vai com o Shankarananda e o Ramananda e pratiquem.” Então fomos para a varanda e praticamos durante 10 ou 15 minutos, após os quais Ele chamou-nos de volta. Juntos, dançamos à Sua frente.

Baba deu-nos a instrução de que deveríamos dobrar o corpo a 90 graus para cada lado, e um máximo de 15 graus para trás. Os dedos deveriam tocar no chão quando nos dobrássemos para a frente. Quando fizéssemos os dois últimos passos, “ta, ta”, os pés deviam elevar-se um pouco do chão e depois bater com todo o pé. Baba ensinou Shankarananda a dar as instruções correctamente, que deveriam ser “Baba-Nam-Baba-Kev-alam.”

De nós os quatro, Ele escolheu-me a mim pela melhor performance. Disse aos outros para saírem do quarto. Depois, Baba disse, “Agora quero que faças uma demonstração prática desta dança para as irmãs. Ramananda, trás um sari.” O dada trouxe um sari e Baba continuou, “Tu é de Bihar, por isso vamos pôr-te o sair ao estilo de Bihar.” Eu não fazia a mais pequena ideia de como usar um sair, mas como Baba insistiu, tentei colocar a peça à minha volta. Baba parou-me e disse para ir ao pé Dele. Depois, de uma forma perfeita ele amarrou o sari à minha volta ao estilo de Bihar. “Agora dança Kaos’ikii”, concluiu.

Mas sempre que me dobrava para a frente, a ponta do sari caía do meu ombro. Após dançar, Baba perguntou, “Como te sentiste?” E respondi “Está sempre a cair, Baba”

“Ok, vem cá.” Depois, colocou o sari ao estilo de Maharastra. Neste estilo, uma ponta vai para trás pelas pernas e é enfiada na cintura. Após dançar, eu disse, “Baba, não me sinto muito confortável quando dobro para os lados.”

Depois vestiu-me o sari ao estilo sul indiano e finalmente ao estilo Bengali. No final, Baba disse “O estilo Bengali parece ser o melhor para esta dança”. Eu concordei, “Sim, Baba, é o mais confortável para o Kaos’ikii.” (Uns dias mais tarde anunciou que o uniforme oficial do Kaos’ikii para as mulheres era um sari castanho vestido ao estilo Bengali com uma camisola verde.)

“Ramananda, estou muito feliz. Quero dar algo a este rapaz! Tens alguma coisa para ele?” O Dada trouxe alguns doces da cozinha. Baba pediu para eu me sentar no Seu colo e com a Sua própria mão deu-me os doces na boca. Também deu alguns doces ao Dada Shankarananda por ter dado as instruções correctamente. Não consigo descrever a felicidade e bem-aventurança que senti por estar sentado no Seu colo, a rir com Ele e a comer doces.

Na manhã seguinte Ele chamou-me ao quarto e disse, “Ontem dei-te doces, mas não fiquei satisfeito. Tu és um homem histórico. Por isso quero-te dar mais qualquer coisa. Aqui tens um dos meus dhotis.” Eu fiquei muito contente e inspirado.

“Ok, de agora em diante, tu és o treinador e vais ensinar a toda a gente. Dou-te permissão para que, por apenas um dia, possas ensinar a algumas irmãs e que escolhas a melhor para que, como treinadora, possa daí em diante, ensinar as outras.” Ensinei a algumas margiis que estavam lá. Uma irmã de Patna, foi a melhor e atribuí-lhe a ela o título de treinadora para as restantes irmãs.

Desde esse dia, Baba exigia que todos que fossem ao Seu quarto demonstrassem Kaos’ikii. Se não o fizessem correctamente, Baba repreendia-os e dizia para que fossem aprender comigo. Então, todos os dias, de manhã até à noite, eu tinha que ensinar diferentes dadas e irmãos a fazer Kaos’ikii. Essa era a minha tarefa constante.

Um dia, Baba pediu a um rapaz de Assam que demonstrasse Kaos’ikii. Após terminar, Baba perguntou ao Dada Dasarath para ver a vida passada desse rapaz. O dada fechou os olhos, Baba tocou-lhe e o Dada tocou no rapaz. Depois, o Dada disse, “Baba, na sua vida passada ele era uma cobra. Alguém o matou enquanto repetia o nome de Krsna. Então, após isso, ele obteve um corpo humano.” O rapaz ficou muito inspirado e mais tarde decidiria juntar-se ao Centro de Treinos para se tornar monge.

Num outro dia, após terminar Kaos’ikii, Baba perguntou a um dançarino, “Tens dores no estômago?” Ele respondeu, “Sim, Baba.” Baba disse, “Esta dança é um medicamento para ti.”

Algum tempo depois, Baba foi numa viagem de avião pelas quatro maiores cidades da Índia: Calcutá, Deli, Bombaím e Madras. Pediu-me que eu O acompanhasse, de comboio, até cada cidade com a tarefa de ensinar todos a dançar Kaos’ikii. Durante essa viagem, Baba também insistiu para que fosse eu a massajá-Lo todas as noites.

Em Madras, o DMC[encontro espiritual] foi feito num templo Hindu. O padre que lá estava perguntou-me, “Quem te ensinou esta dança?” Eu respondi, “Porque perguntas?”. E ele disse, “Porque estás a fazê-la com uma forma e ritmo tão perfeitos, que quero saber quem foi o teu professor.” Eu disse, “Baba, o meu Mestre, ensinou-me isto.” Ele ficou maravilhado.

Durante essa viagem, muitos irmãos entraram em samadhi após dançar Kaos’ikii e Tandava em frente a Baba.

Quando a viagem terminou, voltei para o Centro de Treino de Benares, onde completei o meu treino em apenas uma semana. Fui então colocado como Secretário de Distrito, mas uma semana mais tarde, Baba promoveu-me para uma responsabilidade superior. Em várias reuniões, Baba dizia, “Tu és um homem histórico, por isso tens que fazer mais trabalho!”

Finalmente, percebi porque é que Baba me tinha feito passar por um drama tão longo com a minha família. Se eu tivesse terminado o treino quando queria, teria sido colocado num lado qualquer e nunca teria tido a oportunidade de passar um tempo tão doce com Ele, todos os dias. Tornou-se claro porque é que, na prisão, Baba me respondeu “Não te vou responder agora. Mais tarde, quando eu sair, dou-te a resposta.” Então, percebi que tudo aconteceu de acordo com o Seu plano divino.

Ac. Cittabodhananda Avt.