Quando o sentido estético, baseado na ciência estética subtil, toca um certo nível, é chamado misticismo. E quando este misticismo atinge o auge da glória humana, ou a excelência da glória humana, é chamado espiritualidade. O que é o misticismo? Misticismo é o esforço sem-fim para descobrir a ligação entre o finito e o infinito. É um esforço sem-fim para descobrir uma ligação entre o eu e o Eu-Superior, khud e Khudá. Isto é misticismo.
Um dos costumes dos seres humanos é nunca estarem satisfeitos com algo finito. Eles nunca estão satisfeitos com algo limitado. Em Sânscrito, diz-se, Nalpe sukhamasti bhunaeva sukhamasti [“A sede humana não pode ser satisfeita com algo limitado, a fome humana não pode ser satisfeita por algo finito”].
Ou seja, na busca pelo Infinito, os seres humanos em primeiro lugar entram em contato com a ciência estética. Ciência estética nem sempre significa obter alguma coisa agradável; pode significar obter algo incómodo, algo constrangedor – que pode ou não ser algo agradável. A ciência estética é aquela que uma pessoa pode expressar de maneira mais subtil, do subtil para o subtil, e quando atinge o ponto mais subtil, esse ponto é o auge da glória humana. Agora, é o dever dos artistas expressar o seu trabalho de uma maneira agradável, de uma forma lúcida, e colocá-lo diante do mundo. Nem toda a gente pode fazer isto. Mas apreciar algo com gosto estético, ou encanto estético, está dentro da capacidade de cada ser humano.
Quando os seres humanos começaram o seu movimento em direção ao Ser Supremo, em busca da Bem-Aventurança Suprema, primeiro entraram em contacto com a espiritualidade. Como a espiritualidade é entrar em contacto com o Infinito, ou seja, o finito entra em contato com o Infinito, é chamado de yoga. Yoga é a unidade movendo-se em busca do Infinito, o finito movendo-se em direção ao Infinito, num estilo místico. Em Sânscrito, yoga significa “adição”. Por exemplo, dois mais dois é igual a quatro. Mas para um místico, para um aspirante da meta mística ou um desiderato místico, o yoga não é só adição; aqui yoga significa “união”. Que tipo de união? É como açúcar e água. Se houver duas mais duas maçãs. No caso de adição, haverá uma maçã, depois duas, depois três, e depois quatro maçãs. Cada maçã irá manter a sua individualidade ou sua identidade. A identidade das maçãs mantém-se inalterada, antes e depois da adição. Mas, no caso da unificação, isto é, no exemplo de açúcar e água, o açúcar não mantém a sua identidade pois torna-se um com a água. Isto é união. Na esfera do misticismo, yoga significa que este tipo de união. Isto é, é união como o açúcar e água, e não uma simples adição como dois mais dois.
Agora, o ponto de partida é o gosto estético ou ciência estética. O ponto culminante, isto é, do ponto culminante, começa o movimento do charme Supremo. Nesse movimento, com o objetivo de atingir o charme Supremo, os seres humanos tornam-se unificados com a Entidade Suprema, cujo assento está acima do auge da existência.
Este movimento para o yoga, para a unificação da unidade com o Supremo, o finito com o Infinito, é um dever para todos e para cada ser humano. A estrutura física e psíquica humana é a mais adequada para este propósito. Os animais e as plantas agem de acordo com seus instintos inatos. Eles são mentalmente subdesenvolvidos, e por isso o seu cérebro é também pouco desenvolvido. O crânio é muito pequeno e a parte consciente da mente é suficiente para eles, não há necessidade ou há pouca necessidade para as camadas subconscientes ou inconscientes da mente. A planta recebe prazer ou dor quando os seus instintos inatos são encorajados ou desencorajados. Quando os instintos inatos de uma planta ou de um animal são incentivados eles sentem prazer, e quando os instintos inatos são desencorajados, eliminados ou reduzidos, sentem dor. É assim que o cérebro ou a mente das plantas e dos animais funcionam. Mas no caso da psicologia humana, o movimento psico-espiritual humano não pode ser suprimido, não pode ser interrompido. Aí reside a especialidade da existência humana.
Agora yoga. Yoga é a expressão mais desenvolvida e o mais valioso dos hábitos humanos, por isso é na primeira fase de yoga que uma pessoa se expressa através de tantas artes e ciências. O ponto final de todo o movimento artístico e o ponto final de todos os ramos das ciências é a fonte suprema, a fonte perineal de todas as energias, o lugar supremo de todas as energias. É Parama Puruśa, a Entidade Suprema, que é o Pai de todos, a Matriz Causal de todos os seres criados neste universo, tanto animados como inanimados. É por isso que para todas as pessoas, sejam elas inteligentes ou iletradas, magras ou gordas, educadas ou não, a Entidade Suprema deve ser o objetivo da vida.
14 de Setembro de 1979, Istambul
Publicado em:
Ánanda Vacanámrtam Part 14
Psicologia do Yoga (Yoga Psychology) – livro disponível »