Porque é que os seres Humanos têm medo de sádhaná

Porque é que os seres humanos têm medo de sádhaná [prática espiritual] – porque é que hesitam em procurar o conhecimento introversivo? Deixem-me dizer-vos as razões. A vida humana é o resultado do progresso evolutivo da existência animal. A energia é expressa através do choque de forças hostis e, através desses choques, várias das chamadas entidades “inanimadas” deste mundo composto pelos cinco factores fundamentais, como a areia, ferro, pedra, etc, são transformadas em entidades auto-activadas como plantas primitivas e seres unicelulares. De facto, é através desses choques que elas alcançam o poder de gradualmente converterem a sua energia passiva em energia mental activa. Encontramos a manifestação dessa energia mental em algumas plantas e organismos em particular. Onde a vida tem aversão à luta, o progresso não é possível. Por isso é que em alguns países, ainda hoje conseguimos encontrar criaturas pré-históricas com intelecto sub-desenvolvido; e noutros locais, criaturas com intelecto desenvolvido que surgiram vindas do pó daquelas mesmas carcassas pré-históricas. O intelecto de um macaco não é da mesma categoria daquele de uma minhoca.

Através destes choques a animalidade atingiu a humanidade. É o ímpeto residual – este crédito na folha de balanços da nossa luta pré-humana com a animalidade – que nos tornou possuídores de mentes humanas. É por isso que o ímpeto da animalidade apenas consegue perceber nos termos do prazer material, pois esse ímpeto nunca experienciou a alegria da consciência; e o alcance dessa alegria é inspirado pela alma humana, o sujeito da mente – tal inspiração não poderia ser devidamente utilizada por uma mente animal, mas pode sem dúvida ser um benefício à forte mente humana.

Então, por um lado, é o conhecimento empírico das vidas animais anteriores que guia os seres humanos para os prazeres materiais, por outro, a inspiração mais desenvolvida das suas almas procura guiá-los para a consciência; e portanto um choque está constantemente a ter lugar na mente humana, entre a crueza e a consciência, entre vidyá e avidyá. Os seres humanos têm, normalmente, medo de lutas; por isso não é surpresa que as pessoas com mentes mais materialistas têm aversão a este tipo de lutas no início.

Ter a oportunidade de aprender a prática esotérica de sádhaná, o segredo estratégico para essa luta psíquica, é uma sorte muito rara. Até que tal oportunidade se apresente, o sucesso nessa luta é impossível.

Suponham que existem uma discussão virtuosa a ter lugar algures. Se convidarem duzentas pessoas para partiicpar, vão ver que apenas sessenta aparecem, no melhor dos casos. Desses participantes, talvez dez ou vinte estejam a ouvir com paciência e atenção aos assuntos; e desses ouvintes, apenas alguns perceberam o assunto. E novamente, desse grupo ainda mais pequeno, ainda menos vão reter o conhecimento nas suas mente. Por último, apenas um ou dois participantes vão colocar em prática nas suas vidas aquilo que aprenderam e perceberam. Isto deve-se somente ao choque entre vidyá e avidyá na mente e, neste choque, o triunfo de avidyá (ou força extroversiva) significa fugir da tendência introversiva de vidyá. É devido aos samskaras da animalidade que o ímpeto introversivo é raro na mente humana comum. Os desejos sensoriais de avidya continuam a infiltrar-se em cada pensamento. Tal situação continua a ocorrer durante muito tempo na vida de um sádhaka.

Olhem para as vossas mentes e olhar para o mundo visível. Sempre que fazem qualquer coisa, repelem uma força oposta. Através desta repulsão, adquirem mais força para neutralizar forças opostas ainda mais fortes. Por isso, vejam, é apenas através da luta entre forças opostas que são capazes de tornar as vossas mentes mais fortes.

Caetra Púrnimá 1956 DMC, Patna

Publicado em:
Ananda Marga Ideology and Way of Life in a Nutshell Part 4 [a compilation]
Subhásita Samgraha Part 3