Uma entidade finita precisa de uma base para a sua existência. A base não deve apenas preservar o seu sentido de “Eu” na forma física, mas também deve, a cada momento, nutrir esse mesmo sentimento com energia vital para essa entidade. A entidade subtil requer uma base da mesma forma que a entidade física – a base é simplesmente a forma subtil da entidade física.
A entidade subtil com a qual estamos intimamente ligados é a mente. A base ou vitalidade da mente é a colecção dos objectos que ela contempla, aceita ou descarta. Estes objectos nos seus estados básicos são físicos externos, mas a mente desfruta-os nas suas impressões internas, enquanto formas mentais.
A mente de um certo indivíduo desfruta de um objecto finito em particular, por um longo período de tempo ou lentamente de acordo com os seus samskaras. Após desfrutar um objecto em particular por um curto período de tempo a mente quer virar-se para outro. Ela não pode ficar eternamente a desfrutar um mesmo objecto finito pois objectos finitos têm um princípio e um fim. Naquele movimento eterno, aquilo que tem um princípio certamente também terá um fim. Não serão capazes de desfrutar de algo para todo o sempre. As longas mãos da morte irão certamente roubá-lo. As pessoas falham em compreender isto. Identificam aquelas coisas que lhes dão prazer porque, de acordo com os seus samskaras, são capazes de as reter nas suas mentes durante um período de tempo ou quando as desfrutam lentamente. Tratam esta velocidade lenta como prazer e chamam-lhe felicidade.
As mentes de algumas pessoas permanecem absorvidas no pensamento de dinheiro por muito tempo. Elas rendem a fragrância das suas vidas ao altar do dinheiro. Outros, tratam o alcançar da fama, ou o criar um filho como o principal objecto das suas vidas. Não hesitam em entregar as suas vidas para ter um filho ou alcançar fama. Quando a mente não consegue desfrutar de um objecto em particular durante um longo período, ou fá-lo demasiado rapido, então chamam a essas experiências de experiências de dor. Por exemplo, ninguém gosta de olhar para um corpo em decomposição durante muito tempo. Da mesma forma, após uma breve conversa, irão tentar livrar-se de alguém que vos causa dor.
Assim, seja um objecto uma fonte de prazer ou de dor, a sua finitude não pode ser o vosso objecto permanente. Vocês e esse objecto estão destinados a serem separados. A mente é necessária para a preservação de cada um, e para a sua própria preservação a mente também precisa de um abrigo, que a possa segurar para a eternidade. Os seres humanos almejam sempre por um abrigo seguro. Não é? Alguém vai construir uma casa em areias movediças? Não, vão construir a vossa casa com fundações firmes, em chão estável.
As pessoas procuram sempre uma base para preservar as suas potencialidades mentais até à eternidade e que lhes dê energia vital na luta com os factores temporais. Existe tal base, sólida, neste mundo? Aquilo que é finito não pode ser a base da vossa vida, porque chegará a um fim e também irá deixar a vossa mente desprotegida. Atirando-vos para um abismo de escuridão, irá continuar o seu percurso num caminho sem fim. Como podemos então, neste Universo manifesto onde existem multidões de objectos finitos, começar uma vida baseada em Brahma? A resposta está em adoptar Madhuvidya´ [literalmente: ‘doce conhecimento’. Nome da 2ª lição de meditação da Ananda Marga]. Em vez de verem os objectos finitos e superficiais, olhem para eles como expressões finitas do permanente Infinito. Então, a atracção por Preya [prazeres materiais que levam à extroversão] e o amor por Shreya [ganhos espirituais que levam à elevação] fundir-se-ão apenas num.
Amas o teu filho? É perfeitamente normal que sim, no entanto, quando o filho morrer, vais sofrer muita dor. Não é verdade? O filho é Preya, uma entidade finita. Ele não pode viver eternamente. Vai partir e vai fazer-te chorar. Mas se tratares o teu filho como uma expressão de Brahma na forma do teu filho, então não há razão para ter medo da perda, pois Brahma não pode ser perdido em nenhum ponto no tempo. Ele está presente à vossa volta e em todas as dez direcções.
Ó seres humanos, nesse estado, nenhum objecto finito poderá colorir a vossa mente. Irão estár para além das cores. Então, serão capazes de tratar adequadamente de qualquer ser finito que passe no vosso caminho. Irão tratar adequadamente da expressão de Brahma na forma do vosso pai, ao servi-lo e atender aos seus confortos. Irão dar tratamento adequada à expressão de Brahma na forma da terra, cultivando-a e aumentando a sua fertilidade. Se derem este tratamento aos diferentes objectos finitiso, eles não serão capazes de degradar a vossa mente. Isto é o chamado verdadeiro Vaera´gya [desapego].
Vaera´gya não significa renúncia, deserção ou escapar para os Humalayas após abandonar a esposa, filhos e família. A Ananda Marga opõe-se firmemente a tais mentalidades escapistas. De acordo com a Ananda Marga, a prática do Dharma através de Vaeragya é uma parte da vida familiar. Aqueles que cultivam o sentimento de fugir e deixar tudo para trás estão sob um complexo derrotista. O ladrão, que pelo medo da polícia, o endividado, pelo medo dos credores, os aflitos, pela inabilidade de lidar com as aflições, estão todos entre aqueles que recorrem ao suposto Vaera´gya (desapego). Tais Vaeragiis não têm a força moral para lidar com os obstáculos deste mundo. Tentam esconder a sua cobardice atrás de muito palavreado. Mesmo quando aceitam o suposto Vaera´gya (desapego), as atracções mundanas não diminuem nas suas mentes. Por isso, ao tentar cultivar um interpretação incorrecta deste termo, eles praticam insistentemente Tyaga (negação). Consequentemente muitos deles caem do seu caminho.
“Vaera´gya” é derivado da palavra “vira´ga”. A palavra “Ra´ga” significa apego. A prática através da qual desenvolvemos o desapego de objectos finitos, isto é, a disciplina através da qual a mente deixa de ser influênciada pelas atracções do mundo dos objectos, é chamada Vaera´gya Sadhana. A verdadeira Entidade Cósmica apenas é revelada a pessoas com este Vaera´gya. Somente esta Entidade Cósmica é o abrigo para os seres humanos. É uma forte fundação que nunca, em condições algumas, os irá abandonar. É neste mesmo abrigo Cósmico que poderão estabelecerem-se sem medo, para toda a eternidade.
A´shvinii Pu´rn´ima´ 1955 DMC, Calcutta
Publicado em:
Ananda Marga Ideology and Way of Life in a Nutshell Part 2
Subha´s´ita Sam´graha Part 1