Até um vaso de ouro precisa de um polimento de vez em quando. Se não for cuidado, acumula pó e sujidade e perde o seu brilho. Da mesma forma, mesmo uma boa pessoa ou um sádhaka[praticante espiritual] precisa de um cuidado especial, pois num mundo que está em constante mudança, deve ser dada atenção para que esse mudança seja sempre orientada para o melhor e mais elevado. Manter boas companhias é essencial para este desenvolvimento positivo. Enquanto que as más companhias fortalecem as amarras da alma, a boa companhia leva à libertação e salvação. Esta boa companhia que nos guia à libertação é designada de satsaunga em Sânscrito. Quando se segue satsaunga, seja fisicamente, mentalmente, ou ambas, a mente subconsciente e, por consequência, a mente consciente, são recarregadas com melhores e mais elevadas influências. Esta mudança irá fazer com que o praticante se mova em direcção a metas melhores e mais elevadas. A alternativa é asatsaunga, manter más companhias, que levam uma pessoa para a escravidão. Foi dito:
Satsaungena bhavenmuktirasatsaungeśu bandhanam;Asatsauṋga mudrańam yat tanmudrá parikiirtitá.
Isto significa que através de satsaunga uma pessoa atinge libertação; enquanto que asatsaunga leva a maiores amarras. [E o significado da segunda linha é: “O Mudrańam – o evitar ou afastar – das más companhias é chamado de mudrá sádhaná.”]
Existem dois tipos de satsaunga – externa e interna. Tal como o melhor medicamente é o próprio Parama Puruśa [Consciência Suprema], também a melhor satsaunga é Parama Puruśa. A satsaunga interna é a satsaunga de Parama Puruśa, isto é, o pensamento em Parama Puruśa durante todas as horas [acordadas] do dia, mesmo que os nossos órgãos corporais estejam envolvidos em actividades mundanas.
Satsaunga interna é absolutamente essencial. Aqueles que praticam satsaunga interna podem, consoante possível, ter também satsaunga externa, mas se por algum motivo não conseguirem, não haverá nenhum dano. No entanto, o depender apenas de satsaunga externa, isto é, o simples estar com boas pessoas enquanto que a mente se esquece de Parama Puruśa ou permanece absorvida em pensamentos indesejáveis, não é bom.
A importância de satsaunga está na mente subconsciente. No reino da camada consciente da mente, os processos são naturais e quase idênticos entre humanos e animais, não ocorrendo pápa [más acções]. A camada inconsciente está além da esfera activa da mente. A importância está então na camada subconsciente pois ela afecta as camadas consciente assim como a inconsciente. É como um fluxo bi-direccional que parte da mente subconsciente. O caminho é mais rápido para baixo, isto é, em direcção à mente consciente. Mas é lento para cima, isto é, em direcção à mente inconsciente.
Na mente subconsciente ocorrem três processos, chamados de smarańa, manana e nididhyásana.
Estritamente falando Nididhyasana ocorre principalmente além da mente subconsciente, mas é a subconsciente que leva a isso.
Smarańa significa o relembrar e repensar o que foi ouvido previamente.
Manana significa o relembrar e repensar o que vou absorvido anteriormente através dos outros órgãos sensoriais. Esta ruminação presente em smarańa e manana influência a mente consciente e activa-a de forma a causar mais acções, boas ou más, dependendo da natureza dessas impressões relembradas e repensadas durante smarańa e manana. Além disso, a mente inconsciente também está envolvida. Então satsaunga, onde uma pessoa ouve, vê, cheira, etc, coisas boas, leva também para smarańa e manana positivos e a boas acções, enquanto que o reverso é o resultado de más companhias. Quando o subconsciente tem boa smarańa e manana, e se forem direccionados claramente através da mente [subconsciente] para Parama Puruśa, então isto é designado de smarańa sagrado e manana sagrado. E se o smaraná e manana subconscientes forem focados em Parama Puruśa através do inconsciente, então temos nididhyásana. Aqui reside a importância de satsaunga.
O corpo humano é uma máquina movido através das cinquenta propensões (vrttis) da mente. Estas propensões são dharma, artha, káma, mokśa, avajiṋá, múrcchá, prashraya, avishvása, sarvanásha, kruratá, lajjá, pishunatá, iirśá, suśupti, viśáda, kaśáya, trśńá, moha, ghrńá, bhaya, áshá, cintá, ceśt́á, mamatá, dambha, viveka, vikalatá, ahaḿkárá, lolatá, kapat́atá, vitarka, anutápa, śad́aja, rśabha, gándhára, madhyama, paiṋcama, dhaevata, niśáda, oṋm, hummm, phat́, vaośat́, vaśat́, sváhá, namah, viśa, amrta, apará e pará.Estas propensões mentais são reguladas por certas glândulas no corpo. Esta máquina corporal pode ser manipulada à vontade daquele que controle essas glândulas. O controlo das glândulas irá controlar as propensões e isto, por sua vez, controla todas as funções corporais.
1969, Ranchi
Publicado em:
Ananda Vacanamrtam Part 33