Ele está ainda mais próximo do que julgas

Eu vou novamente repetir:
Dúrát sudúre tadihántike ca
pashyatsvihaeva nihitaḿ guháyám

Parama Puruśa, a Entidade Suprema, é vasto. Ele não é apenas maior que o maior, Ele é também o mais subtil dos subtis. Será que esta Entidade está próxima dos seres humanos, ou será que está muito longe? Um dos Seus nomes é “Viśńu”, que significa aquela entidade que permanece escondida em tudo, que é uma parte integral de toda a ínfima partícula, que reside camuflada em todo o universo expresso. Deste modo, uma pessoa inteligente dotada de uma perspectiva universal, não albergando qualquer complexo de inferioridade ou superioridade, olhará para tudo como uma manifestação de Parama Puruśa, fazendo um esforço para caminhar em frente, em harmonia com tudo e todos.

Ele está em todo o lado. No entanto, se alguém pensar que Ele está longe, Ele permanecerá ainda mais longe. A este respeito, dois termos são usados – “dur” (longe) e “sudur” (muito, muito longe). “Dur” significa algo muito longe, mas mesmo assim possível de medir, tal como algo que fica a uns milhares de milhas ou anos luz de distância. Porém, se a distância não puder ser calculada, e todos os esforços matemáticos falharem miseravelmente, então o termo “sudur” – muito, muito longe – é usado.
Algumas pessoas julgam que Parama Puruśa está muito longe, e que sem qualquer misericórdia os deixou completamente abandonados a um canto. Eles acreditam que Ele se preocupa com todas as pessoas, menos com eles. Para essas pessoas a minha resposta é “Ele pensa em todas as pessoas. Se Ele não estiver a pensar em ti, então Ele deverá estar a pensar em não pensar em ti. Se Ele pensar que vai pensar em todas as pessoas excepto em ti, Ele também estará a pensar em ti.” De modo que é lógico que ele pensa em toda a gente, sem excluir ninguém. Mas mesmo assim, se alguém acreditar que Parama Puruśa não pensa nele ou nela, Ele então pode permanecer um objecto realmente distante.

Por outro lado, se alguém pensar que Parama Puruśa está muito perto, que ele está mesmo aqui (em Sânscrito “iha” significa “aqui”), Ele poderá estar tão perto que essa proximidade não poderá ser medida (“ihántike” quer dizer “mais perto que o mais perto”). Nós dizemos “a uma milha de distância” ou “com dois cúbitos de largura” – isto é “iha”. Contudo, quando o objecto está tão próximo que não é possível medir o intervalo, diz-se “ihántike”. Tu pensas que Parama Puruśa está muito perto, mas talvez Ele esteja ainda mais perto que isso – a Sua proximidade é imensurável.

“Pashyatsvihaeva nihitaḿ guháyám”. Aquele que atingiu a visão interior – a capacidade de olhar para dentro, de experimentar ou realizar algo através da introversão do nervo óptico – por mérito da sádhaná é verdadeiramente uma pessoa abençoada. O que é esse sentimento de “Eu” que existe em cada entidade? O que é o “Eu” de “Eu vou comer”, “Eu vou falar”, ou “Eu vou fazer”? É aquele Supremo “Eu” que permanece escondido no “Eu” pequeno. Então que as pessoas repitam o iśta mantra, que meditem e cantem kiirtan para o seu “Eu” Supremo, que permanece escondido no seu “Eu” pequeno.

Aqueles que não tem este sentimento, e que julgam que Parama Puruśa está muito longe, poderão chorar até à exaustão mas Ele não os irá ouvir. A verdade é que a Entidade Suprema reside dissimulada no sentimento do pequeno “Eu” de todas as criaturas vivas. Assim, Ele não está longe de nada, aliás, Ele é o próprio “Eu” de todo e qualquer microcosmo. Com esta ideia ou sentimento em mente, os aspirantes espirituais devem iniciar a sua prática espiritual. Atingir a realização desta suprema ideia, é o ponto culminante de toda a sádhaná.

2 de Novembro de 1978 – Manhã – Kalikata

Publicado em:
Ánanda Vacanámrtam Part IV